
Foram 21 anos, mas parece que foi ontem! Quando me perguntam sobre meu maior orgulho sobre a AGV, sem dúvida alguma é o fato de termos construído do zero o melhor time e a melhor empresa de logística do Brasil (e pasmem, do mundo, pois procuramos durante este processo empresas com números iguais aos nossos e não achamos, ao menos entre as públicas). E mais do que isto, é ter na sua gestão um time 100% “prata da casa”, que ajudou a criar a nossa Cultura, o jeito AGV de SER (Servir, Equipe e Resultado), que é o que nos fez sermos o que somos.
Quem chega agora acha que foi fácil. Não imagina tudo o que passamos nestas duas décadas. Começamos no seio de uma crise, após o fechamento de um frigorífico e demissão de 700 pessoas. Uma empresa fundada por mim em sociedade com minha família, num prédio velho e adaptado, fazendo armazenagem frigorificada de alimentos.
Nosso primeiro cliente foi a Unilever, com as margarinas e logo após a Kibon.
Representavam 80% do faturamento e com 6 meses de Armazéns Gerais Vinhedo vieram nos falar que iriam centralizar suas operações num concorrente novo que chegava no Brasil, a finada McLane. Foi a primeira vez que ouvi a palavra Operador Logístico na vida, eram meados de 1999. Nesse início, meu fiel escudeiro, braço direito e esquerdo, era o Jalaertem, a quem sou muito grato e que teve um papel fundamental nessa história. Ele ajudou a fundar as bases da companhia, nos anos iniciais de muitas dificuldades, no desenvolvimento de seu DNA comercial, e a levá-la até o seu ano de maior faturamento até hoje.
Quando me perguntam do porquê do nosso sucesso, uma das razões é que sempre fomos
humildes e ouvimos muito o cliente. Isso aconteceu quando a Unilever nos disse que o “futuro” era do Operadores Logísticos. Imediatamente mudamos nosso discurso, logo em seguida nosso nome para AGV Logística, e passamos a nos posicionar como tal. Com isso ganhamos duas importantes contas, o Sé Supermercados e o Leite Paulista. Foi uma loucura. Vendemos um sonho, pois não estávamos preparados, e corremos atrás. Tivemos de trocar a asa do avião com ele voando. Foram muitas e muitas noites sem dormir, com 100% da empresa ajudando no armazém a separar produto, não importava se era faxineira, desenvolvedor de TI, Gerente ou Presidente. Esta cultura mão na massa, onde todos fazem o que tem que que ser feito, não importa a hierarquia, sempre foi uma característica muito forte. Deu certo. Logo arrumamos a casa, e estas operações modelo nos ajudaram a vender outras. Problemas sempre tivemos, mas a maneira como encaramos os problemas, de frente, sem dar desculpas, sem se esconder, sempre fizeram a diferença.
Em 1999 a AGV ganhou uma concorrência privada com os laboratórios que fabricavam vacina anti-aftosa. Percebemos ai uma grande oportunidade. Um mercado de nicho, que nenhum concorrente olhava, e que ainda não terceirizava. Montamos um plano com começo, meio e fim, e demos foco total no mercado veterinário, e de 1999 até 2006 consolidamos nossa liderança absoluta no setor, onde construímos a grande fortaleza da AGV até os dias atuais. Foram anos de muito crescimento, quase 45% ao ano em média.
Anos onde se formaram a cultura da empresa, as bases do nosso sistema de gestão (implantamos nosso sistema de orçamento matricial e gestão por indicadores em 2004), desenho de todos os principais softwares todos desenvolvidos pelo nosso time (WMS, TMS, ERP, Customer Service), do nosso super vitorioso modelo de Customer Service. Neste período entre 2001 e 2005, a Cristina e a Cláudia, que era minhas irmãs e sócias, também deram sua importante contribuição como executivas.
Já tínhamos feito muito, mas queríamos mais. Éramos a 17ª maior empresa do setor em 2016 e traçamos um plano ousado para nos tornarmos a 2ª maior do Brasil. Quando lançamos nossa Visão 2011, de ser o Maior e Melhor Operador Logístico de capital nacional até 2011, teve gente que duvidou. Não o Noraldino. Ele, que já tinha passado por poucas e boas conosco, momentos muito difíceis desde as épocas até anteriores a AGV, quando olhou aquela meta a primeira vista maluca soltou com espontaneidade:
“Tá Fácil!”. Virou o mote na nossa campanha.
Dada a largada, projetamos, construímos e inauguramos em 2007/08 o maior e mais moderno centro de distribuição multi-temperatura voltado para medicamentos da
América Latina, o Dartagnan onde é hoje a nossa sede de Health & Nutrition. Quem viveu a AGV de 2007 até 2011 viu uma empresa crescer 10x em 5 anos, sair de 500 pra 4700 colaboradores, de 18 pra 92 filiais, de 7 pra 18 Estados, de 11 pra 770 caminhões, de R$70 para R$752 milhões de faturamento, 100% de serviços. Foi uma verdadeira loucura. A pressão era enorme, dias intermináveis e muitos finais de semana de trabalho longe da família. Mas como diz o ditado, mar calmo nunca fez marinheiro bom. O melhor time do Brasil foi forjado nas duras batalhas que vivemos. Muita gente que foi formada na AGV hoje está espalhada por toda a indústria de operadores logísticos e em muitas outras, pessoas que cresceram nesses momentos de muitas dificuldades e hoje encaram quaisquer desafios.
Em 2012, decidimos a arrumar a casa fortemente. Ajustamos nossa estratégia, focamos em menos setores e abrimos mão de contratos não rentáveis. Ainda na minha gestão como CEO concluímos o processo de integração das empresas adquiridas, passamos de 4 ERPs, 7 WMS e 4 TMS pra apenas 1 de cada. Vendemos 100% da frota, unificamos e fechamos quase 40 filiais culminando com projeto do Olimpo, nosso maior CD com 70 mil paletes, hoje fundamental no crescimento da FMCG, e acabamos reduzindo nosso quadro em mais de 2000 pessoas em menos de 2 anos. Foi bem dolorido para uma empresa que até então só tinha visto crescimento, mas foi a decisão super acertada e necessária. Demos 3 passos para trás para poder voltar a andar e depois a correr novamente. Ficamos mais leves, ágeis e focados.
Fizemos também projetos super importantes como o GIT (Gestão Integrada de
Transportes), onde repensamos a maneira de contratar transportes e implantamos a torre de controle que nos trouxe muita eficiência operacional e mais rentabilidade, saindo de grandes clientes transportadores (o nome que damos aos nossos parceiros de transportes) para mais de 4500 atualmente. Com a chegada do Jorge como CEO no final de 2013, continuamos o processo de reciclagem da carteira de clientes, melhoramos ainda mais nossa gestão de custos e finalmente começamos a colher os frutos deste difícil processo de ajuste iniciado lá em 2012.
Em 2016, mesmo estando muito bem, decidimos mais uma vez mudar. Quem já vinha comandando o dia a dia da empresa no ciclo anterior e dando um show era o trio Marcelo, Maurício e Rogério. Os 3 que estão conosco desde o dia 1 da companhia, e que ajudaram a construir o negócio do zero, contribuindo desde o início de maneira fundamental para o que a AGV se transformou, estavam prontos para assumir o comando, cada um na sua área. E deram um show. Marcelo como CEO da FMCG e Maurício da Health & Nutrition, com o Rogério com todo nosso CSC (Central de Serviços Compartilhados). A nossa aposta não poderia ser mais acertada. Com cada vez mais foco nos setores, dando autonomia e responsabilidade, os 3 com seus times formados majoritariamente por pessoas formadas aqui, vieram ano após ano a AGV batendo recordes de resultados, de crescimento, de satisfação de clientes, de novos negócios, que culminaram com vários prêmios como o que ganhamos este ano de melhor operador logístico do Brasil de saúde humana tanto em armazenagem quanto em transportes. Implantamos nesse ano uma cultura de Lean com ganhos fantásticos, levamos nossos sistemas pra nuvem, desenvolvemos novas plataformas de tecnologia, melhoramos nossa malha de distribuição e fizemos a cisão da empresa em duas.
Mesmo vivendo um momento mágico da história da companhia, um de nossos sócios desde 2016, o Kinea empresa do Grupo Itaú, tinha uma necessidade de vender a sua participação até meados de 2020, devido a data de liquidação de seu fundo que investiu na AGV. Por conta disso iniciamos este ano conversas sobre potenciais alternativas estratégicas. Depois de receber propostas de vários grupos, a que nos pareceu fazer mais sentido foi a da Solistica, empresa que pertence ao Grupo Femsa, que tem quase 130 anos de história e quase 300 mil funcionários. Tive a oportunidade de visitar a sede do grupo em Monterrey no México, e de conversar com diversas pessoas da empresa e também com pessoas que fizeram negócios com eles em outras oportunidades. Fico muito tranquilo de que a AGV, “meu primeiro filho”, que criei junto com este grupo de executivos que hoje toca o negócio no dia a dia e que continuará no negócio, estará agora em ótimas mãos. Dando continuidade a sua história com um grupo de gente super séria, que tem uma visão e uma ambição ainda maior do que a nossa que era ser a melhor e maior do Brasil. A AGV agora tem com a Solistica a oportunidade de expandir e levar seu know how e seus clientes para outros países e tornar líder da América Latina. Para nossos colaboradores as oportunidades serão imensas. Sem dúvida é um ganha/ganha para ambas as companhias. Nesta fase de transição, fico por pelo menos 1 ano numa posição de consultor, ajudando neste processo de transição que tenho certeza será super tranquilo pois nenhum outro time tem tanta experiência neste tipo de integração de ambos os lados como os que ai estão. Todos podem e devem ficar tranquilos.
Queria por último agradecer mais uma vez a todos que permitiram que esse sonho acontecesse. A todos os nossos clientes que acreditaram num bando de jovens de 20 e poucos anos, sem experiencia no setor. Vocês tiveram visão e coragem e são parte deste sucesso. A todos os nossos colaboradores e ex-colaboradores (infelizmente não dá pra citar nominalmente todos), obrigado por me aguentarem tantos anos, e por comprarem a ajudarem a construir meu sonho. Vocês formaram o melhor time do Brasil, quem diz isso não sou eu, mais meus sócios fundos de primeira linha que já investiram em dezenas de empresas. Vocês são fod@!!! São meu maior orgulho! Aos milhares de clientes transportadores e fornecedores que viabilizam nossa atividade no dia a dia, dado que a AGV não possui nenhum ativo que ela opera. Crescemos juntos, e com certeza, vocês terão oportunidade de continuar a crescer nesta nova fase da companhia. A minha família, que acreditou em mim e que sempre me apoiou em especial nos momentos mais difíceis. E por último aos meus sócios nestes anos todos: Equity International, Familia Salvadori, Tarpon, Kinea, GEF, Marcelo, Mauricio e Rogério. Todos vocês tiveram um papel fundamental nessa história, e a jornada ao lado de vocês foi de muitos aprendizados e boas risadas.
A todos muito obrigado. Nos vemos por ai no novo ciclo que se inicia agora.
Abraço,
Vasco Carvalho Oliveira Neto
Janeiro/2020
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